Cuidar ou cobrar? O guia para liderar com equilíbrio real 📬
Como equilibrar empatia e firmeza na liderança sem adoecer ou estagnar o time? Nesta edição falo sobre “gentileza com firmeza” — como ter uma liderança que acolhe, cobra com respeito e impulsiona.
Na semana passada, li dois conteúdos que ficaram reverberando na minha cabeça.
O primeiro foi uma coluna da Folha de S. Paulo afirmando que a tal da “liderança Nutella” — segundo a autora, aquela que tem “falta de pulso firme” — estaria afundando empresas. Ela diz:
“O mercado de trabalho virou um berçário onde líderes andam na ponta dos pés para não ferir suscetibilidades, enquanto equipes inteiras confundem feedback com ofensa e cobranças com assédio.” E questiona: “Desde quando exigir comprometimento virou opressão? Desde quando dar um feedback honesto é visto como violência emocional?”
O segundo foi um estudo preocupante publicado no O Globo: o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental entre 64 países.
Segundo especialistas, o trabalho é um dos fatores com maior influência sobre a saúde mental de uma pessoa adulta — tanto como fonte de realização quanto de adoecimento. E não é difícil entender por quê: passamos a maior parte do nosso tempo produzindo, lidando com expectativas, metas, relações e, muitas vezes, pressões invisíveis. Quando há clareza, pertencimento e respeito, o trabalho pode ser um espaço de crescimento. Mas quando falta segurança emocional, os efeitos aparecem rápido: ansiedade, esgotamento, baixa autoestima e até sintomas físicos.
Esses dois temas aparentemente opostos revelam um desafio real da liderança contemporânea: como manter a performance sem adoecer o time? Como cobrar excelência sem apagar a saúde emocional de quem entrega?
A resposta, para mim, está no meio do caminho. Existe, sim, um ponto de equilíbrio. E ele se chama gentileza com firmeza — uma frase que ouvi da minha mentora e levo comigo até hoje.
O problema dos extremos
Liderar com empatia não significa abrir mão de metas, entregas ou profissionalismo. Assim como liderar com firmeza não precisa envolver grosseria, humilhação ou microgestão.
Sim, os profissionais mudaram. Hoje, mais do que nunca, as pessoas querem ter sua individualidade respeitada no ambiente de trabalho — e com razão. Com o avanço da discussão sobre saúde mental, autoconhecimento e relações de trabalho mais equilibradas, além das mais alternativas de trabalho, houve uma mudança geracional e cultural importante.
A liderança precisa acompanhar esses movimentos. Sim, dá mais trabalho — exige inteligência emocional, escuta ativa, gestão individualizada e mais tempo de qualidade com o time. Mas acredite: é uma necessidade estratégica para a saúde do negócio e das pessoas.
Como líderes, precisamos bater metas, dar feedbacks duros quando necessário e, ao mesmo tempo, criar um ambiente saudável para o desenvolvimento humano.
E como fazer isso?
Gastando mais tempo explicando o “porquê” por trás das decisões.
Compartilhando vivências reais que mostrem que resiliência é construída, não exigida.
Tornando as metas claras, sem deixar de lado o cuidado com o caminho até elas.
E mostrando, com transparência, que toda carreira exige escolhas e compensações.
A frase que mais me marcou na coluna da Folha foi:
“No meio desse caos emocional, os talentos de verdade vão embora. Nenhum profissional de alto nível quer um líder que passa a mão na cabeça. Querem um líder que impulsiona, que desafia, que cobra excelência.”
E eu concordo. Uma liderança frouxa, preguiçosa e que tem medo de desagradar vai levar os talentos para bem longe, mas o COMO importa: gentileza com firmeza é desafiar com respeito. Cobrar com clareza. Inspirar sem esmagar. Apoiar sem acobertar.
Antes de seguirmos, vamos descobrir de que lado você está agora?
Tenho evitado conversas difíceis por medo de parecer dura demais?
Me sinto culpada ao fazer cobranças ou dar feedbacks críticos?
Meu time sabe claramente o que se espera de cada um?
Já recebi retorno de que sou “muito direta” ou “muito exigente”?
Tenho notado sinais de esgotamento, ansiedade ou insegurança no meu time?
Ou, ao contrário, sinto que as pessoas estão acomodadas, sem brilho no olho?
Eu mesma me sinto exausta de segurar o emocional de todos?
Tenho clareza sobre o que é gentileza e o que é condescendência?
Essas perguntas não têm certo ou errado, mas ajudam a perceber se você está pendendo demais para um dos extremos.
Afinal, como praticar a liderança com gentileza e firmeza
1. Dê clareza antes de cobrar
Empatia começa com alinhamento. Quando as pessoas sabem o que se espera delas, se sentem mais seguras e têm mais chance de entregar. Combine o jogo antes de começar.
Para começar amanhã: escolha uma entrega importante do time na semana que vem e alinhe com clareza o que é esperado, o prazo e o critério de sucesso.
2. Feedback não é falta de cuidado — é atenção à carreira em forma de palavra
Feedbacks bem dados são ferramentas de crescimento. Não evite os difíceis — são eles que viram o jogo.
Para começar amanhã: marque um 1:1 com alguém que está precisando de um direcionamento claro. Vá com escuta ativa, coragem e respeito.
3. Acolha a emoção, sem abandonar o fato
Valide o que a pessoa sente, mas traga-a de volta aos dados, prazos e compromissos.
Para começar amanhã: diante de um conflito ou falha, experimente começar com “Eu entendo que isso te afetou” antes de retomar o foco no que precisa ser feito.
4. Cobrança com respeito é mais eficaz do que grito
Você pode dizer “essa entrega ficou abaixo do esperado” sem levantar a voz ou fazer críticas pessoais.
Para começar amanhã: revise o tom do seu próximo e-mail ou mensagem — será que dá pra manter a firmeza, mas com mais empatia na escolha das palavras?
5. Cuidado com o que você absorve sozinha
Empatia não é assumir o peso emocional de todos. É apoiar, sim, mas também colocar limites. Sua saúde mental importa.
Para começar amanhã: identifique uma situação que está te sobrecarregando e delegue, compartilhe ou diga um “não” respeitoso, mas firme.
Dica bônus: Crie um “Work Way” do seu time
Uma forma prática de equilibrar cuidado e clareza é criar um documento simples com as diretrizes de convivência e colaboração do time.
Esse material pode incluir coisas como: horários ideais para reuniões e mensagens (ex: evitar notificações fora do horário comercial); como lidamos com urgências (quando chamar no WhatsApp e quando esperar o e-mail); regras para feedbacks, revisões e prazos; canais oficiais de comunicação e seus usos; valores do time (ex: escuta ativa, responsabilidade, respeito ao tempo do outro).
Para começar amanhã: puxe essa conversa na próxima reunião de equipe. Pergunte: “O que podemos alinhar para trabalhar melhor juntos e respeitar nossos limites?”
Com o tempo, transforme essas decisões em um documento vivo, que pode (e deve) ser revisado conforme o time evolui.
Para refletir
Gentileza com firmeza não é uma frase bonita — é um convite à maturidade da liderança. É dizer o que precisa ser dito, do jeito certo. É se importar com as pessoas, sem perder de vista os resultados. É não escolher entre ser humana ou estratégica — porque uma líder de verdade é as duas coisas.
Se essa news fez sentido para você, compartilhe com outra mulher líder que também está buscando esse equilíbrio.
Com amor,
Andresa 🍀
Sem palavras para este texto. Tudo o que eu precisava.
Essa edição foi um presente pra mim <3