É preciso se masculinizar para comandar? 📬
A masculinização da liderança feminina é realidade, mas será necessária para conquistar respeito e espaço? Vamos explorar esse tema com dados, reflexões e caminhos para uma liderança mais autêntica.
Nos últimos dias, uma fala do fundador do Facebook trouxe à tona um debate antigo: ele afirmou que as empresas precisam de "mais energia masculina" e uma cultura que "celebre a agressividade". A questão é: agressividade realmente faz um líder ser mais eficaz? E mais importante: nós, mulheres, precisamos adotar comportamentos tradicionalmente masculinos para sermos respeitadas?
Se você já sentiu que precisava endurecer sua postura, falar de forma mais assertiva do que gostaria ou ser mais "dura" para ser levada a sério, saiba que não está sozinha. A masculinização da liderança feminina é uma realidade, mas será que essa é a única forma de ocupar esse espaço?
A masculinização como estratégia de sobrevivência
A história nos mostra que, por muito tempo, as mulheres tiveram que se adaptar para conquistar espaço em ambientes dominados por homens. Escritoras como Mary Ann Evans, por exemplo, adotavam pseudônimos masculinos para que suas obras fossem levadas a sério. Hoje, esse mesmo movimento acontece de formas mais sutis.
Eu já me peguei moldando meu comportamento para me encaixar. Às vezes adotando uma postura mais rígida, um tom de voz mais seco ou até evitando demonstrar vulnerabilidade... Isso acontece porque o ambiente corporativo ainda valoriza traços tradicionalmente associados à masculinidade como sinônimos de liderança eficiente.
O estereótipo da masculinidade agressiva e seus impactos
Antes de falarmos sobre como esse comportamento afeta as mulheres, precisamos entender que essa ideia não prejudica só a nós, mas também os próprios homens.
Desde cedo, os meninos são ensinados a serem vencedores, a evitarem demonstrar emoções e a acreditarem que liderança é sinônimo de dominação. Isso cria um ciclo de liderança baseado na imposição, na competição extrema e no medo de parecer frágil.
O problema? Esse modelo não só cria ambientes tóxicos, como também leva a altos índices de estresse, ansiedade e isolamento emocional. Líderes que adotam um estilo autoritário enfrentam desafios como:
✔ Maior propensão ao burnout – a pressão para parecer infalível cobra um preço alto.
✔ Problemas de saúde mental – 54% dos líderes homens relataram impactos negativos na saúde mental devido à pressão do cargo. (Fonte: Harvard Business Review)
✔ Baixo engajamento das equipes – líderes autoritários têm maior dificuldade em reter talentos. (Fonte: Gallup)
Enquanto em uma liderança masculinizada destacam-se uma comunicação mais dura e direta, supressão da vulnerabilidade, competitividade extrema, distanciamento emocional da equipe, uso de uma linguagem mais fria e agressiva; a colaboração, a diversidade e inteligência emocional são as verdadeiras forças da liderança.
As mulheres lideram melhor, mas ainda são minoria no topo
Mesmo com todos os desafios, os dados mostram que as mulheres não só são tão capazes quanto os homens para liderar, como são percebidas como gestoras melhores:
📌 50% dos entrevistados consideram que CEOs mulheres possuem uma gestão excelente, contra 43% dos CEOs homens. (Fonte: FIA Business School)
📌 79% dos colaboradores afirmam confiar mais em suas líderes mulheres do que nos homens no mesmo cargo (72%).
📌 CEOs mulheres são mais conhecidas por suas equipes (84%) do que os homens (79%), indicando que costumam ter uma gestão mais próxima e humana.
Mas, se tudo isso é um fato, por que ainda nos sentimos pressionadas a liderar como homens? Eu realmente acredito que, muitas vezes, chegamos a esse lugar sem sequer perceber, nos adaptando ao jogo ou copiando exemplos de outras líderes que nos cercam.
Aqui entra minha própria experiência: quando eu tinha aproximadamente dois anos como gestora, refiz um teste de competências e me surpreendi com os resultados. Minha automotivação e orientação para resultados estavam em alta – o que era ótimo – mas, ao mesmo tempo, minha empatia e escuta ativa despencaram.
O feedback que recebi da minha líder, na época, foi compreensivo, reconhecendo que eu estava me adequando ao ambiente. Mas aquilo me incomodou profundamente. Será que eu precisava realmente abrir mão de quem eu era para crescer? Essa reflexão me fez prestar atenção no meu comportamento e reajustar a rota.
Se você sente essa pressão para se masculinizar, a primeira pergunta que deve se fazer é: "O que disso faz sentido para mim e o que estou fazendo apenas para ser aceita?"
Aqui estão alguns passos para construir uma liderança autêntica, sem precisar abandonar sua essência:
✔ Reflita sobre seus valores – O que realmente importa para você como líder?
✔ Nós não somos, nós estamos - O ambiente e tudo o que acontece na nossa vida nos transforma, por isso, autoconhecimento e intencionalidade fazem toda a diferença.
✔ Desenvolva inteligência emocional – Liderança não é sobre ser dura, mas sobre ser estratégica na forma como se comunica e se posiciona.
✔ Busque modelos femininos de liderança – Conecte-se com mulheres que lideram de forma autêntica e aprenda com elas.
✔ Construa redes de apoio – Ter um grupo de mulheres que enfrentam desafios semelhantes pode ser uma fonte valiosa de aprendizado e suporte.
Liderar sendo você mesma: autenticidade como diferencial
💡 A liderança eficaz não precisa ser masculina, e sim autêntica. Empresas que incentivam a diversidade de perfis colhem benefícios significativos:
✔ Mais inovação → Ambientes onde diferentes estilos de liderança coexistem favorecem novas ideias.
✔ Engajamento e retenção → Equipes lideradas por mulheres relatam maior satisfação e confiança.
✔ Resultados melhores → A inclusão de diferentes estilos de liderança fortalece a competitividade da empresa.
Se todos os líderes adotam o mesmo comportamento masculinizado, onde fica a inovação? Onde fica o pensamento divergente?
A verdade é que liderança não tem gênero, tem autenticidade. E quando um ambiente de trabalho valoriza essa diversidade, o crescimento é inevitável.
#ParaLembrar
A masculinização da liderança feminina não é um acaso, mas sim um reflexo de um mercado que ainda valoriza padrões antiquados. No entanto, os estudos são claros:
📌 Estilos de liderança mais colaborativos e emocionalmente inteligentes geram melhores resultados.
📌 Líderes autênticos – e não agressivos – constroem ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos.
Você não precisa endurecer para ser respeitada.
Você não precisa mudar quem você é para ocupar seu espaço.
A liderança mais poderosa é aquela que valoriza suas características naturais, que se apoia na inteligência emocional, na colaboração e na escuta ativa.
Com amor,
Andresa 🍀