Exausta de tentar dar conta de tudo? O perfeccionismo está te travando 📬
Frequentemente visto como uma virtude, o perfeccionismo pode ser um sabotador silencioso – consumindo sua energia, atrasando decisões e impedindo seu crescimento.
Um feedback que ouvi há alguns anos me trouxe reflexões importantes. Meu então líder me disse: "você precisa começar a deixar alguns pratinhos caírem". Na época, aquela frase me pegou de surpresa. Eu estava acostumada a dar conta de tudo, a ter visibilidade sobre cada detalhe, a garantir que nenhuma bola caísse. Além disso, acreditava que era admirada por isso. Mas a verdade é que, quando tentamos segurar todos os pratinhos, acabamos exaustas – e pior: deixamos de focar no que realmente importa. A ilusão de controle absoluto nos aprisiona em tarefas operacionais, enquanto decisões estratégicas, que exigem nosso olhar mais crítico, podem ficar em segundo plano. Na medida em que avancei na minha carreira, percebi que o perfeccionismo não era uma busca minha apenas, mas de muitas líderes mulheres com quem trabalhei.
Como nossa criação contribui para nosso comportamento hoje
Desde a infância, meninas são frequentemente ensinadas a serem impecáveis em suas ações e comportamentos, enquanto meninos são incentivados a serem corajosos e assertivos. Essa educação diferenciada cria um ciclo de autossuficiência exaustiva para as mulheres, que aprendem desde cedo que errar não é uma opção. No ambiente corporativo, essa busca incessante pela perfeição se transforma em uma pressão constante para equilibrar todos os aspectos da vida sem falhas — e, ao mesmo tempo, enfrentar uma barreira invisível, mas real: a penalização da assertividade feminina. Enquanto homens são frequentemente elogiados por sua firmeza e posicionamento direto, mulheres que adotam a mesma postura correm o risco de serem vistas como "agressivas", "difíceis" ou "mandonas".
Esse duplo padrão nos coloca em uma encruzilhada: somos incentivadas a sermos líderes competentes, mas alertadas a não sermos “demais”. O resultado? Nos policiamos, suavizamos falas, hesitamos antes de discordar e, muitas vezes, sacrificamos nossa própria autoridade para evitar desconfortos. Isso nos desencoraja a ocupar espaços de poder com naturalidade e reforça a crença de que, para sermos aceitas, precisamos ser perfeitas — e silenciosas.
Pesquisas mostram que mulheres perfeccionistas têm 33% mais chances de desenvolver ansiedade crônica e esgotamento profissional do que aquelas que adotam uma mentalidade mais flexível em relação ao trabalho. Um estudo publicado na Harvard Business Review destacou que a obsessão pelo perfeccionismo é uma das principais barreiras ao avanço de mulheres em cargos de liderança, pois consome tempo e energia em tarefas de menor impacto, impedindo que elas se dediquem ao que realmente as levaria ao próximo nível.
Reconhecendo o perfeccionismo em si mesma
Para identificar se o perfeccionismo está afetando sua liderança, reflita sobre as seguintes questões:
- Você evita delegar tarefas por acreditar que ninguém as executará tão bem quanto você?
- Sente-se frequentemente insatisfeita com seus resultados, mesmo quando alcança seus objetivos?
- Tem dificuldade em aceitar elogios, minimizando suas conquistas?
- Dedica tempo excessivo a detalhes insignificantes, comprometendo prazos maiores?
- Sente ansiedade ou estresse constante relacionado ao seu desempenho profissional?
Se você respondeu "sim" a algumas dessas perguntas, é possível que o perfeccionismo esteja influenciando negativamente sua liderança.
Impactos do perfeccionismo na liderança feminina
📌 O perfeccionismo que paralisa: entre a autocrítica e a procrastinação
O medo da imperfeição gera um efeito paralisante: quanto mais nos cobramos, mais demoramos para agir. Muitas líderes perfeccionistas acabam se tornando grandes procrastinadoras, não porque sejam desorganizadas, mas porque têm receio de que suas entregas não estejam à altura da expectativa – delas mesmas ou dos outros. Assim, passam horas ajustando detalhes irrelevantes, revisando tarefas já concluídas ou refazendo trabalhos que estavam suficientemente bons. No curto prazo, isso pode até parecer um zelo profissional. No longo prazo, porém, significa perda de tempo, sobrecarga e um efeito dominó na produtividade e na confiança.
Essa procrastinação mascarada se torna perigosa porque dá a falsa sensação de que estamos ocupadas, quando na verdade estamos travadas. Projetos importantes ficam para depois, oportunidades passam despercebidas e a ansiedade aumenta, criando a sensação constante de que “estamos correndo atrás” – mas nunca chegando lá.
Como isso afeta sua carreira?
Dificuldade em tomar decisões rapidamente, por medo de errar.
Sensação constante de insatisfação, mesmo quando os resultados são positivos.
Perda de prazos e acúmulo de tarefas, gerando ainda mais estresse.
Aumento da ansiedade e do cansaço mental, levando ao esgotamento.
📌 Microgerenciamento: quando a necessidade de controle sufoca a equipe
Uma líder perfeccionista tem dificuldade em confiar no trabalho dos outros. Ela sente que, para garantir que tudo saia impecável, precisa revisar, corrigir e aprovar cada detalhe. O resultado? O microgerenciamento, um comportamento que pode sufocar a equipe, minar a motivação dos colaboradores e impedir que talentos floresçam. Quando uma líder não permite que seu time tenha autonomia, os profissionais passam a depender dela para qualquer decisão – o que cria um efeito dominó de sobrecarga e ineficiência. Além disso, a constante necessidade de revisar tudo impede a líder de se dedicar a tarefas mais estratégicas e de alto valor, deixando-a presa em questões operacionais.
Como isso afeta sua carreira?
Falta de tempo para pensar estrategicamente e inovar.
Equipe desmotivada e sem autonomia, que não desenvolve novas habilidades.
Sobrecarga emocional e sensação constante de exaustão.
Estratégias para superar o perfeccionismo
O perfeccionismo pode ser um grande obstáculo para uma liderança equilibrada e estratégica. Para quebrar esse ciclo, aqui estão algumas ações práticas que podem transformar a sua forma de trabalhar e liderar:
1️ Foque no que realmente move o ponteiro
Muitas vezes, o perfeccionismo faz com que nos preocupemos com tarefas secundárias que não têm um impacto significativo nos resultados. Para evitar isso, tenha sempre em mente as metas contratadas e lembre-se do que realmente será cobrada. Se algo não está contribuindo diretamente para o crescimento do negócio ou para os resultados estratégicos, talvez não mereça tanto do seu tempo e energia. Não adianta entregar um monte de coisas que não movem o ponteiro – priorize o que realmente importa. Ah, lembre-se de comemorar as pequenas vitórias.
2️ Aceite a imperfeição: ambientes inovadores permitem erros
Reconheça que errar é humano e que os erros são oportunidades de aprendizado e crescimento. Toda grande inovação surge de tentativas e ajustes, e um ambiente onde as pessoas se sentem seguras para testar ideias – e falhar no processo – é essencial para a evolução dos negócios. Se você, como líder, busca uma perfeição inatingível, seu time pode acabar paralisado pelo medo de errar, limitando sua criatividade e capacidade de tomar iniciativas. Permita-se e permita à sua equipe o direito de errar e aprender com isso.
3️Pratique a autocompaixão: seja tão gentil consigo mesma quanto seria com uma amiga
Trate a si mesma com a mesma compreensão que ofereceria a uma colega ou amiga em um momento de dificuldade. O perfeccionismo muitas vezes se alimenta da autocrítica severa e do sentimento de nunca ser boa o suficiente. Um bom ponto de partida para trabalhar isso é o conceito de Aceitação Radical, abordado no livro de mesmo nome por Tara Brach. Ela nos lembra que, para crescer e evoluir, precisamos antes nos aceitar por inteiro – com forças e limitações. Se quiser se aprofundar nesse conceito, temos um post no Instagram sobre isso (link aqui).
4️ Delegue responsabilidades: se você não confia na sua equipe, algo precisa mudar
Confie no seu time e distribua tarefas de forma estratégica, permitindo que as pessoas contribuam e se desenvolvam. Se você sente que precisa revisar tudo, refazer entregas ou estar sempre presente para garantir que as coisas aconteçam, pergunte-se: o problema é realmente a qualidade do time ou é a minha necessidade de controle? Se o seu time não tem a maturidade necessária para assumir responsabilidades, então faça o que um líder deve fazer: forme sua equipe ou substitua as peças que não funcionam. Não carregar tudo sozinha não é fraqueza – é inteligência.
5️ Gerencie o tempo de forma eficaz: tire do time o que não gera valor
Estabeleça prazos realistas e evite gastar tempo excessivo em detalhes que não impactam significativamente o resultado final. O perfeccionismo pode nos levar a um desperdício de energia com coisas irrelevantes, enquanto deixamos de lado o que realmente pode trazer impacto. Para evitar isso, revise regularmente o que o seu time está fazendo e se pergunte: “Isso gera resultado real para a empresa?” Se a resposta for não, talvez seja hora de cortar essa atividade da pauta e redirecionar o foco para o que importa.
6️ Busque apoio profissional: o poder transformador da mentoria
Considere a possibilidade de buscar mentoria para trabalhar os aspectos emocionais do perfeccionismo e desenvolver uma liderança mais equilibrada. A mentoria pode ser um divisor de águas. Ter alguém experiente para compartilhar aprendizados, trazer novas perspectivas e desafiar crenças limitantes pode acelerar sua evolução como líder e evitar que você fique presa a padrões de comportamento que já não fazem sentido. Além disso, a troca com outras líderes que passaram pelos mesmos desafios pode ser extremamente enriquecedora. Não subestime o impacto que um bom mentor pode ter na sua trajetória.
Para refletir
Quando nos recusamos a deixar que alguns pratinhos caiam, estamos privando outras pessoas da oportunidade de aprender a pegá-los. Não fazer o projeto de alguém, não entrar em todas as discussões, não resolver cada problema pode gerar desconforto no curto prazo – mas esse desconforto é necessário. Ele ensina a equipe a se responsabilizar, a crescer, a desenvolver autonomia. E ensina a nós, líderes, a priorizar o que só nós podemos fazer. Porque, no fim das contas, não se trata de carregar o mundo nas costas, mas de escolher com sabedoria quais batalhas valem nossa energia.
Reconhecer e abordar o perfeccionismo é essencial para uma liderança eficaz e sustentável. Ao permitir-se ser humana e aceitar a imperfeição, você abre espaço para a inovação, a criatividade e o crescimento, tanto pessoal quanto profissional.
Lembre-se: a busca pela excelência é saudável, mas a obsessão pela perfeição pode ser um obstáculo. Encontre o equilíbrio que permitirá a você e à sua equipe prosperarem.
Com amor,
Andresa 🍀