📬 Por que você precisa dizer o que quer e ensinar o time a fazer o mesmo
Veja como a falta de comunicação direta mina a liderança e o que você pode fazer para transformar queixas em pedidos, ruídos em alinhamento e silêncio em confiança.
Nem todo conflito nasce de uma diferença de opinião. Muitas vezes, nasce de algo muito mais simples: a falta de um pedido claro.
A história dos R$100 e o hábito de reclamar sem comunicar
Um amigo me contou uma história que nunca saiu da minha cabeça. A mãe dele reclamava do pai porque, quando ela pedia 100 reais… ele dava 100 reais. Sim, você leu certo.
Ela não queria os 100 reais. Ela queria mais, mas esperava que ele adivinhasse isso.
Essa história sempre me divertiu e me ensinou. Porque ela exemplifica o que vejo com frequência no mundo do trabalho (e nos nossos relacionamentos de forma geral):
Pessoas que reclamam, mas não comunicam.
Pessoas que esperam que o outro adivinhe o que elas estão sentindo, pensando ou precisando.
A verdade é que muitos de nós crescemos aprendendo a esperar que o outro “saque no olhar” o que queremos. Que adivinhe, que perceba. E isso atravessa todos os nossos relacionamentos, inclusive os profissionais.
E quando você lidera, esse comportamento (vindo de você ou de seus liderados) vira uma armadilha.
O silêncio é confortável, mas disfuncional
Muitas vezes, ao ouvir uma queixa de alguém no time, faço a pergunta inevitável:
“Você já conversou com a pessoa sobre isso?” A resposta, quase sempre, é: “Não.”
O medo de parecer exigente, fraco, confuso ou até chato paralisa muita gente. Mas existe algo ainda mais forte: o medo de encarar uma conversa difícil.
E, aqui no Brasil, essa dificuldade tem raízes culturais. Fomos ensinados a sermos simpáticos, muitas vezes em detrimento da sinceridade. Construímos relações de trabalho com afeto, com apelidos, com jeitinho. E, quando o time vira “quase uma família”, fica ainda mais complicado chamar alguém para uma conversa direta. Parece pessoal. Parece grosseria.
O problema é que, quando não dizemos o que queremos, a frustração cresce em silêncio. A reclamação vai pro corredor. A relação desgasta. A liderança trava.
Comunicação não é só falar. É se fazer entender.
Segundo Patrick Lencioni (autor de Os 5 Desafios de uma Equipe), a falta de comunicação clara e direta é uma das maiores causas de disfunção nos times. E o problema costuma começar aqui:
Falta clareza sobre o que esperamos
Falta coragem para conversar com quem precisa ouvir
Falta prática para fazer pedidos de forma objetiva
Uma pesquisa da McKinsey com mais de 5 mil profissionais identificou que a falta de alinhamento e comunicação entre líderes e liderados é um dos principais fatores de queda no engajamento e na produtividade. Segundo estudo da Gallup, apenas 26% dos funcionários afirmam ter clareza sobre o que seus líderes esperam deles.
E isso não é só um desafio de comportamento. É estrutural.
Quando líderes evitam conversas difíceis, o que se instala é um terreno fértil para mal-entendidos, ruídos e insegurança. O time começa a “ler nas entrelinhas”, a operar com suposições, a tentar adivinhar o que o outro pensa. O resultado? Decisões piores. Conflitos acumulados. E líderes sobrecarregadas, tentando adivinhar o que se passa nos bastidores.
Falar com clareza, de forma direta e respeitosa, é um dos atos mais generosos da liderança. Porque evita suposições, economiza energia emocional e abre espaço para confiança real.
Os 3 F’s que travam a comunicação nas equipes
Por que a conversa que precisa acontecer não acontece?
1. Falta de clareza
Acontece quando ninguém sabe exatamente o que se espera.
Frase típica: “Não sei se é pra eu resolver ou esperar alguém pedir.”
2. Falta de coragem
É o medo de parecer dura, injusta ou causar desconforto.
Frase típica: “Melhor deixar pra lá… não quero arrumar confusão.”
3. Falta de prática
É a dificuldade de estruturar pedidos de forma objetiva.
Frase típica: “Enrolo pra falar, acabo falando demais e não chego no ponto.”
Esses três travamentos aparecem todos os dias nas equipes, e muitas vezes passam despercebidos. O papel da liderança é quebrar esse ciclo e construir uma cultura de conversas claras, diretas e respeitosas.
Exemplo prático: de queixa a pedido claro
Cenário comum:
“Essa pessoa não respeita os prazos.”
Transformação em pedido direto e respeitoso:
“Percebi que você costuma me enviar entregas fora do prazo combinado. Isso atrasa outras partes do projeto e me sobrecarrega. Podemos alinhar um fluxo que funcione para os dois?”
Dica prática: Use a fórmula:
Comportamento observável + Impacto + Pedido claro
Um case real
Uma liderada dizia que queria “mais visibilidade” no time, mas evitava se posicionar nas reuniões. Quando conversamos, ela percebeu que nunca tinha pedido, de fato, para apresentar seus resultados. Depois que ela fez isso, com clareza e intenção, não só foi ouvida, como recebeu convite para representar a área em um comitê da empresa.
Clareza abre portas que o silêncio fecha.
3 formas de evitar o ciclo: reclamação > frustração > silêncio
1. Diga o que você quer (e por que)
Ao invés de: “Acho que o projeto tá sem visibilidade…”
Tente: “Você pode me incluir nas próximas apresentações com o time executivo? Acho que meu time está fazendo entregas que merecem ser vistas.”
2. Ensine o time a fazer pedidos objetivos
Em vez de aceitar apenas desabafos, pergunte:
“O que exatamente você gostaria que fosse diferente?”
“Você já comunicou isso para quem pode resolver?”
Transformar reclamação em ação é parte do papel de quem lidera.
3. Entenda que não é sobre ser adivinhado, é sobre ser claro
Ninguém é obrigado a ler sua mente.
Clareza não diminui sua autoridade, ela amplia sua potência.
Um lembrete: quem não pede, não ensina o outro a entender.
A reclamação não é o problema. O problema é quando a reclamação vira hábito e o pedido vira tabu. Seja no trabalho ou na vida, não basta esperar mais sensibilidade das pessoas. É preciso praticar mais clareza e encorajar isso no time também.
O que você está esperando que alguém adivinhe… que você poderia simplesmente dizer?
Com amor,
Andresa 🍀